Auta de Souza é conhecida por integrar o grupo de poetas brasileiros e ainda pela sua influência no Espiritismo.
Ainda na Terra, escreveu poemas expressivos da literatura.
E, mesmo desencarnada, nos presenteou com seus lindos versos.
Neste artigo, vamos conhecer mais a fundo a história de Auta de Souza e alguns poemas de sua autoria.
Boa leitura!
Quem foi Auta de Souza?
Auta de Souza foi uma poetisa brasileira da segunda geração romântica.
Ela é autora do livro Horto, que ecoou bastante na época, e uma das razões pela repercussão foi o prefácio escrito por Olavo Bilac, um dos maiores poetas daquele tempo.
Mesmo após desencarnar, Auta continuou escrevendo pelas mãos do médium Chico Xavier, e entrou na lista dos poetas espíritas.
A seguir, conheça a história de Auta de Souza:
Mini biografia de Auta de Souza
Auta de Souza nasceu em 12 de setembro de 1876 na cidade de Macaíba, no Rio Grande do Norte, e desencarnou em 7 de fevereiro de 1901, na capital Natal.
Ela perdeu os pais ainda na primeira infância.
Aos três anos de idade, quando ficou órfã, mudou-se para morar com a avó materna, que pôde lhe proporcionar uma educação de boa qualidade.
Com 11 anos, Auta começou a estudar em uma escola de freiras francesas e lá aprendeu literatura, alguns idiomas como o francês e o inglês, além de música e desenho.
Pouco tempo depois, aos 14 anos, ela foi diagnosticada com tuberculose e precisou continuar os estudos em casa, sozinha.
Era vista lendo para as crianças pobres, para as mulheres humildes e escravos.
Sua dedicação logo rendeu frutos e, com 16 anos, Auta começou a escrever seus primeiros versos.
A poetisa colaborou com diversas revistas e jornais e, aos 24 anos, lançou seu primeiro livro intitulado “Horto”.
Pouco tempo depois do lançamento da obra, Auta desencarnou em virtude da tuberculose.
Documentário: Noite Auta, Céu Risonho
Dirigido por Ana Laudelina Ferreira Gomes, a produção foi uma parceria da TV Universitária e Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Riograndenses.
A história de Auta de Souza é fonte de inspiração e superação.
Além da perda prematura dos pais, a poetisa também precisou enfrentar a dor de devolver o irmão mais novo ao plano espiritual após um acidente fatal causado pela explosão de um candeeiro.
No amor, ela também sofreu.
Por pressão dos irmãos, foi obrigada a se separar do namorado, que desencarnou pouco tempo depois por tuberculose, doença que também a acometeu.
Todos esses acontecimentos influenciaram as obras de Auta de Souza.
Sua história e o seu trabalho foram retratados em um documentário intitulado “Noite Auta, Céu Risonho”, lançado em 2008.
Livro de Auta de Souza: Horto
O livro Horto, sem dúvida, foi o grande legado de Auta de Souza.
A primeira edição, publicada em 1900, teve tiragem de mil exemplares, que se esgotou rapidamente em dois meses.
O livro é uma coletânea de poesias que abordam temas como morte, religiosidade e natureza, dentre outros assuntos.
Poemas de Auta de Souza (Extraídos do livro “Horto”)
Confira, a seguir, três poemas escritos por Auta de Souza, retirados do livro Horto.
Ao Pé do Túmulo
Eis o descanso eterno, o doce abrigo
Das almas tristes e despedaçadas;
Eis o repouso, enfim; e o sono amigo
Já vem cerrar-me as pálpebras cansadas.
Amarguras da terra! eu me desligo
Para sempre de vós… Almas amadas
Que soluças por mim, eu vos bendigo,
Ó almas de minh’alma abençoadas.
Quando eu d’aqui me for, anjos da guarda,
Quando vier a morte que não tarda
Roubar-me a vida para nunca mais…
Em pranto escrevam sobre a minha lousa:
“Longe da mágoa, enfim, no céu repousa
Quem sofreu muito e quem amou demais”.
Consolo Supremo
Os tristes dizem que a vida
É feita de dissabores
E a alma verga abatida
Ao peso das grandes dores.
Não acredito que seja
Assim como dizem, não…
Ai daquele que deseja
Viver sem uma ilusão!
Se há noites frias, escuras,
Também há noites formosas;
Há risos nas amarguras;
Entre espinhos nascem rosas.
E rosas também cobriram
O lenho santo da Cruz,
Quando os espinhos cingiram
A cabeça de Jesus.
Rosas do sangue adorado
– Fonte de graça e de fé –
Brotando do rosto amado
Do Filho de Nazaré.
Ó alma triste, chorosa
Como uma dália no inverno,
Despe da mágoa trevosa
O negro cilício eterno!
Enquanto vires estrelas
Do Céu no imenso sacrário,
Na terra flores singelas
E uma Cruz sobre o Calvário;
Enquanto, mansa, pousar
A prece nos lábios teus,
E souberes murmurar
Com as mãos unidas: meu Deus!
Não digas que à luz vieste
Para chorar e sofrer,
E como a plantinha agreste
Sonhar um dia e… morrer…
Não digas, pobre querida!
Mesmo se a dor te magoa;
É sempre feliz na vida
A alma que é pura e boa.
Ao Luar
Astros celestes, docemente louros,
Giram no espaço, em luminoso bando;
Ouve-se ao longe um violão plangente
E, mais além, n’um soluçar dolente,
Canções serenas, ao luar voando.
Quanta tristeza pela noite clara!
Quanta saudade pelo azul boiando!
Cuida-se ouvir, n’um dolorido choro,
As preces tristes de um magoado coro
De almas penadas ao luar rezando.
O céu parece uma igrejinha antiga
Que a lua branca vai alumiando…
E essas estrelas, muito além dispersas,
São rosas brancas no Infinito imersas,
Monjas benditas, ao luar chorando.
Os pirilampos, pelas moitas tristes,
Voam, calados e sutis, brilhando…
Lembram descrenças, a bailar sombrias,
Ilusões mortas de esquecidos dias,
Almas de loucos, ao luar passando.
Flocos de nuvens pela Esfera adejam,
Barcos de neve pelo Azul formando…
Semelham preces que se vão da terra,
Almas mimosas, que este mundo encerra,
De criancinhas, ao luar sonhando.
Eles parecem também velas brancas
Soltas, à toa pelo mar vogando…
Leves e tênues, a correr imensas,
Folhas de lírios pelo Ar suspensas,
Aves saudosas, ao luar chorando.
Ai! quem me dera ser também criança!
Ai! quem me dera andar também voando!
Fazer dos astros um barquinho amado,
N’ele vagar por todo o Céu dourado,
As minhas dores ao luar cantando!
A Eugênia
Imagem santa que entrevejo em sonho,
Sempre, sempre a cantar,
Criatura inocente, anjo risonho,
Que me ensinaste a amar!
Meu doce amor! Calhandra maviosa
Que canta dentro em mim;
Minha esperança tímida e formosa,
Meu sonho de marfim!
Amaranto do Céu, flor encantada,
Mimoso colibri;
Minha açucena pálida e magoada,
Meu níveo bogari;
Gota de orvalho a tremular n’um lírio
Que mal começa a abrir;
Ó tu que apagas meu cruel martírio
E que me fazes rir;
Madressilva entreaberta, lira de ouro,
Celeste beija-flor;
Minha camélia, meu sorriso louro,
Amor de meu amor;
Guarda estes versos que só dizem mágoa
E tristezas sem fim…
Deixa-os no seio como a gota d’água
No cálix de um jasmim…
Auta de Souza e o Espiritismo
Após seu desencarne, Auta de Souza entrou para o grupo de poetas espíritas.
Isso porque, do outro plano, continuou escrevendo suas poesias.
Seus versos mediúnicos possuem um estilo melancólico e muito místico.
Além dos poemas, Auta também influenciou algumas ações no mundo físico, conforme veremos nos próximos tópicos deste artigo.
História sobre Auta de Souza com Divaldo Franco
O médium Divaldo Franco fundou, ao lado de seu amigo Nilson, a Mansão do Caminho, que assiste pessoas em vulnerabilidade social.
Trabalho social
O trabalho social na instituição é estruturado em três pilares: Educação, Saúde e Caravana Auta de Souza.
A Caravana foi criada sob a orientação da poetisa Auta de Souza.
É uma das mais antigas atividades da Mansão do Caminho e atende hoje cerca de 500 pessoas.
Trabalho voluntário
Desde 1948, o trabalho voluntário, realizado por meio de doações, ajuda idosos e pessoas inválidas portadoras de doenças irrecuperáveis e degenerativas.
A Rainha das Rosas
No Capítulo 14, com o título: A Rainha das Rosas, Ana Maria Spranger e Silva Luiz, autora do livro biográfico de Divaldo Franco intitulado “O Paulo de Tarso de Nossos Dias”, narra o seguinte acontecimento com o médium baiano, demonstrando que Auta de Souza é uma trabalhadora incansável no Mundo Espiritual:
Divaldo, certa feita, viu-se ao lado de Auta de Souza, que o convidava para uma excursão promovida pela antiga rainha de Portugal, D. Isabel, conhecida pela sua bondade e abnegada prática da caridade.
Oportuno recordar que o rei, D. Diniz, não gostava das incursões da rainha, levando pão e moedas para as populações necessitadas.
Certa vez foi espreitá-la para surpreendê-la em desobediência… Viu quando ela se dirigia à dispensa do palácio e enchia o avental de alimentos. Ele se postou então à sua espera.
“- Onde vai Senhora? O que leva aí em seu avental? – interpelou o rei quando D. Isabel saía apressadamente.”
“- São flores, Senhor meu! ”
“- Quero vê-las! Flores em Janeiro?”
Quando D. Isabel de Aragão, mãe do futuro rei de Portugal, D. Afonso, espanhola de nascimento e portuguesa pelo coração, a rainha das rosas, também chamada de Rainha Santa, mostrou o avental, caíram, num fenômeno maravilhoso de efeitos físicos, rosas de diferentes cores…
Consta que o rei nunca mais tentou impedir a rainha de praticar a caridade.
Auta de Souza avisa a Divaldo que pisasse nas pegadas da rainha durante a excursão. Eis que chegaram a uma região em que se ouviam gritos de desespero.
A caravana vai passando e Divaldo, amparado por Auta de Souza, vê que equipes socorristas, atendendo a ordens de D. Isabel, recolhem muitos dos que clamavam por socorro. Eram os que se mostravam verdadeiramente arrependidos.
Recorda Divaldo, entre outros detalhes da excursão, ter visto também que D. Isabel lançava na direção dos aflitos uma rosa, da qual saíam, então, flocos de luz que pareciam aliviar a angústia daqueles sofredores. Era quando os padioleiros, sob as ordens diretas de D. Isabel, acorriam para recolherem os mais arrependidos.
“- Recordei-me até das descrições de Dante Alighieri sobre o Inferno”, diz Divaldo. Tocado pelas cenas, indaga de Auta de Souza para onde iam aqueles Espíritos recolhidos nas padiolas.
“- Muitos são atendidos nos agrupamentos espíritas existentes na Terra, para que depois possam ser levados a estâncias outras na Espiritualidade.”
“- E quando não havia ainda agrupamentos espíritas, antes do advento do Espiritismo?”
” – Os médiuns eram levados, com a aquiescência deles, e com a permissão de Jesus, às zonas intermediárias, onde colaboravam no socorro aos sofredores. Não te esqueças, Divaldo, de que somos, todos nós, amparados pela Misericórdia do Pai Celestial. ”
E Divaldo concluiu dizendo que ficou, depois, e durante muito tempo, e ainda hoje, meditando na responsabilidade dos médiuns, na necessidade do estudo permanente, na dedicação devotada às tarefas; meditando também que devemos orar, sobretudo antes do sono reparador, para que enquanto o corpo repousa, todos possamos trabalhar na seara de Jesus.
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Auta de Souza e Chico Xavier
Os poemas espíritas escritos por Auta de Souza após o seu desencarne foram publicados com o apoio de Chico Xavier no livro Parnaso de Além-Túmulo, de 1932.
A obra, que reúne poemas de diversos espíritos desencarnados, foi a primeira a ser lançada pelo médium.
Além de Auta, o livro traz textos psicografados de Artur Azevedo, Augusto dos Anjos, Bittencourt Sampaio, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Cruz e Sousa, Olavo Bilac e muitos outros autores.
Centro Espírita “Deus e Caridade”
O Centro Espírita “Deus e Caridade” foi criado no dia 18/04/1975 em Uberaba. Com o prédio ainda e construção, o nosso irmão Chico Xavier visitando a Casa Assistencial, na própria sala do Centro Espírita, em reunião de preces, recebeu a mensagem “Prece a Jesus”, ditada pelo Espírito de Auta de Souza, na noite de 01/09/1975.
A referida mensagem, tão expressiva de esclarecimento e bom ânimo, nos revela a excelência e a força da Caridade na edificante composição dos versos:
PRECE A JESUS
Abençoa, Senhor, a casa que nos deste,
No campo de trabalho e anseio que bendigo…
Neste pouso de paz, temos o doce abrigo
Que nos revela o Amor por Luz do Lar Celeste.
A Caridade aqui é a força que nos veste
De júbilo ao saber que marchamos contigo…
Dá-nos, Senhor, o dom de ver-te o braço amigo
Onde o brilho do Bem aqui se manifeste.
Conserva-nos a porta aberta a quem procura
Conforto à solidão, socorro à desventura,
Resposta, auxílio e fé, padecendo ao buscar-te!…
Que a nossa casa em Ti, no amor que não se cansa,
Seja um lar consagrado à bondade e à esperança
Que te louve a Presença e o Nome, em toda parte.
Auta de Souza
No dia 06/10/1975 foi inaugurado o Centro Espírita “Deus e Caridade”, com a presença de Chico Xavier e de uma grande assistência de irmãos de Minas Gerais e São Paulo, que vieram participar da alegria dessa grande comunidade.
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Revista Auta de Souza
Auta de Souza inspirou inúmeros trabalhos.
A editora Auta de Souza, por exemplo, é dona de um periódico que também carrega seu nome.
A Revista Auta de Souza é uma publicação que aborda diversos temas do Espiritismo.
As edições da revista podem ser acessadas no site, clicando aqui.
Centro Espírita Auta de Souza
Além de inspirar a revista, Auta de Souza também motivou a criação de alguns centros espíritas.
Diversas instituições espíritas espalhadas pelo Brasil carregam o nome da poetisa.
Núcleo espírita Auta de Souza
Entre as instituições espíritas que levam o nome de Auta está o Núcleo Espírita Auta de Souza, localizado em Recife, no estado de Pernambuco.
A casa realiza diversas atividades, como atendimento ao público, grupos de estudo, cursos diversos e obras assistenciais.
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Conclusão
Auta de Souza foi uma importante poetista brasileira, que também contribui com a literatura espírita por meio de versos mediúnicos.
Neste artigo, vimos alguns poemas extraídos do livro Horto, a obra mais relevante da sua carreira enquanto encarnada.
No livro Parnaso de Além-Túmulo, de Chico Xavier, é possível encontrar outros textos sob autoria de Auta.
Pela mediunidade de Chico Xavier, o Espírito Auta de Souza ditou o livro: “Auta de Souza a gentil mensageira do amor”, editado no seu centenário de desencarnação com seus poemas que homenageiam a Jesus e a Caridade.
Além dos poemas espíritas, Auta de Souza também influenciou as decisões de Divaldo Franco e ajudou a fundar uma das principais atividades da Mansão do Caminho.
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